Artigo // Existe relação entre cognição e deglutição?
Aparentemente simples, a deglutição é na verdade uma função bastante complexa, que depende da integridade de inúmeras estruturas de cabeça e pescoço para a sua execução, além de uma sofisticada organização de processos neurológicos.
Sabe-se que inúmeros fatores podem ocasionar dificuldades de deglutição: doenças neurológicas (Esclerose Lateral Amiotrófica, Esclerose Múltipla, Parkinson, AVC, Traumatismo Crânio-Encefálico), doenças oncológicas (Tumores de Cabeça e Pescoço), entre outros. Mas será que situações clínicas que comprometem o estado cognitivo dos pacientes, como nas demências, podem ocorrer quadros disfágicos?
Primeiramente, é importante que se compreenda que se alimentar com segurança pela boca não se trata apenas de questões de saciedade ou, puramente, de ato motor. Quando está difícil para engolir, ao que tecnicamente chamamos de Disfagia, o que pode estar seriamente em risco é a vida do paciente.
Amplamente divulgado em meios de comunicação, o diagnóstico de demência frontotemporal do ator Bruce Willis – do blockbuster Duro de Matar – deu atenção à causa. Em que pese dar-se ênfase à afasia noticiada – dificuldade de compreensão e expressão da fala – há de se atentar a outros sintomas possivelmente relacionados.
A demência frontotemporal é uma doença neurovegetativa grave que pode afetar a comunicação, a cognição, o comportamento e o movimento. Tem como características principais distúrbios primários de linguagem, em que os lobos frontais e temporais do cérebro atrofiam, causando a perda progressiva de compreensão, alterações na personalidade e na conduta social.
A dificuldade no processo de engolir é igualmente comum em pacientes com demências (sobretudo no Alzheimer), em maior ou menor grau, e de acordo com o estágio da doença. Sintomas como hesitação ou negação para comer, perda de peso, quadros de pneumonia de repetição, intolerância a alimentos sólidos os líquidos, constante perda de saliva pela boca e engasgos podem fazer parte do quadro em decorrência do comprometimento das áreas do cérebro que são responsáveis por estas funções. Isto tudo porque o ato de comer também exige a utilização de inúmeras tarefas cognitivas: atenção, percepção, planejamento e execução estão envolvidas no processo de alimentação. Em casos demenciais, estas importantes atividades, então automáticas, podem estar bastante prejudicadas.
É importante que se observe que dificuldade para engolir não é normal. O fonoaudiólogo especialista em Disfagia é, dentro da equipe de saúde que atende esta demanda, o responsável pela avaliação, diagnóstico e reabilitação dos problemas de deglutição.
Aline Ferla é Doutora em Ciências Pneumológicas (UFRGS), Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana (UFSM), com títulos de Especialista em Disfagia, Motricidade Orofacial e Fonoaudiologia Hospitalar pelo CFFa, e membro da European Society for Swallowing Disorders.
Divulgação Sabe Caxias: