PALAVRAS PARA MINHA MADRINHA por MIGUEL BRAMBILLA
Minha Dinda Lady, desencarnou hoje. Por isso estou de luto. Por isso minha foto de infância. Sou um homem de 51 anos, nem tão maduro assim, mas tenho uma foto dela me carregando no colo, junto com o Frei Ambrósio, na Igreja dos Capuchinhos, no meu batizado. Quando eu achar vou postar. Hoje foi sua despedida física. Homenagens ao corpo, casca que serve aos nossos espíritos. Meu pai foi em 2012, outros já foram há mais tempo, e um dia iremos também. Não nascemos para ficar aqui para sempre. O tempo passa. Vamos ficando com os cabelos brancos, cansados dos mesmos e infantis problemas, das inseguranças, das pandemias. Mas seguimos em frente, por que temos esperança na vida. Sempre ganhei livros da minha madrinha. “O outro lado da meia noite”, Sydney Sheldon, “Um estranho no espelho” do mesmo autor, “O expresso do oriente”, que virou filme depois, não lembro o autor. “Ensina-me a viver”. Ganhei um tabuleiro de xadrez certa vez, que ainda tenho até hoje, apesar da minha filha Julia ter perdido meu peão, kkk. Ensinei o Léo, meu filho há jogar nele. Mesmo em tempos de pandemia, segue guardado, por que apesar de tanto tempo, “não tempos tempo”. O tempo passa. O óbvio se escracha em nós, por que só sentimos quando o tempo passou. Se não fosse o grande estímulo que recebi pelas letras e leitura, não teria lido tanto na vida. Nunca consegui montar a Caravela Nina do kit Ravel que ganhei certa vez, apesar de ter tentado umas quatro vezes…kkk…Não era minha praia. Quando ainda criança, na idade da foto, queria fugir para a casa da dinda. Sempre queria fugir de casa, o que se revelou mais tarde no meu espírito rebelde e fujão, até de mim mesmo. Outras vezes na vida, recolhi-me ao carinho de dinda, que dizem é segunda mãe. Hoje, nos despedimos em tempos de pandemia e frieza, distância e isolamento social, fisicamente da Dinda. Sempre foi católica. Sempre foi correta. Sempre trabalhou muito. Viveu, deixou sua marca neste mundo. Sofreu e foi imperfeita como todo mundo. Dizem, que do outro lado da vida, meu pai Miguel, veio buscá-la. Lembro-me das estrepolias que ele contava e ela atestava com alegria, até quando ele quebrou os óculos dela com uma funda. Era peralta o Miguel Brambilla Pai. Quando criança. Quando adulto bonachão. A vida continua eu acredito. Não somos só carne, túmulos, flores, silêncio e despedida. Somos saudade, esperança, amor, recomeço, boa vontade. Somos vida. Vida eterna. Então estou de luta, desenterrando memórias que nunca esqueci, pela nostalgia dos dias. Aniversários com os primos do lado do pai. Família. Se desfaz. Mudam casas, mudam idades, passam pandemias, mas a vida não acaba, a vida continua, a vida se transforma constantemente. E depois de cansados, vamos voltar para recomeçar novamente e amar, até aprendermos a amar infinitamente, eternamente. Então, fique aqui meu registro. Obrigado Dinda. Pelos livros, pelos carinhos, pelas acolhidas. Obrigado querida Dinda pela nossa ligação, que não vem apenas como um sopro de vida. Voltamos a nos ver qualquer dia. Fique tranquila. Receba a benção de um tempo novo, de paz e alegria e a certeza de que tudo passa e que somos muito mais. A eternidade é muito mais que um século, um dia de vida. Jesus te receba. Feliz recomeço. Te amo. ???