VELHOS DIAS NUNCA MAIS…por Miguel Brambilla Jr.
O QUE IMPORTA A PASSAGEM DO TEMPO NA MENTE E NO CORAÇÃO DAS PESSOAS?
Por que estamos sempre preocupados com as horas, com a administração da vontade, com o que produzir para receber algo em troca? O que está acontecendo com nosso destino todos os dias, quando vemos apenas uma sucessão de dias sem solução, enquanto acumulamos mais e mais informações? Fotos, melodias, músicas, memórias, histórias, filmes, conhecimento. Pare que serve tanto conhecimento? Se estamos tão aflitos com a capacidade de sobrevivermos como humanidade, por que então não estamos unidos, já que avançamos tanto com os princípios de ética e vontade?
As vezes parece correta a interpretação de Nietche sobre o eterno retorno. Estamos constantemente repetindo emoções e ressentindo emoções. Almoçamos regiamente, satisfazemos o corpo sexualmente, usamos os princípios de higiene com cuidado necessário para manutenção do corpo e a eliminação de doenças, fingimos ou realmente acreditamos que esta é a verdadeira vida. Crescer e curvar-se para as novas gerações, esperando que honrem um legado de honra e vontade, de boas intenções e frustrações de verdade. No final de tudo, esperaremos que os mais jovens tenham piedade de nós e de nossos talentos enrugados pela falta de exercício. Enquanto lembramos filhos pequenos e suas necessidades e fragilidades em nossas mãos, aprendemos que não nos pertencem, são da vida e precisamos apostar na ética que conseguimos colocar em suas consciências, para poder, se a aposta for favorável, gozar de um pouco de dignidade no ocaso do corpo, na velhice, na morte.
Compreendo que esta introdução parece um pouco negativa, niilista no sentido de tornar pessimista nossas expectativas diante da matéria, das memórias da carne. A carne bem vestida, por ações saudáveis e gestos honoráveis, poderá de certa forma nos dar a aparência de civilidade. Mas qual é nossa real civilidade, se estamos a mercê de um microorganismo tão simples e capaz de nos dizimar como cultura, como ciência, como ética, como política, ao denunciar a fragilidade de nossos governos não de hoje, mas de sempre.
Se os governos são frágeis e democráticos, o povo é frágil por não fiscalizar. Se os governos são frágeis e ditatoriais, o povo é culpado por não protestar.
Aqui digo frágeis no sentido da ética e da honestidade, na incapacidade de administrar o poder público e a riqueza da coletividade de forma justa e correta, buscando a excelência em cada filigrana de poder, em cada irradiação do poder que é bem amplo, de acordo com cada coletividade quase ilimitado.
Dentro dos limites destas forças, seguem os sonhadores, os iludidos, os agnósticos, os infiéis, os que distorceram a boa vontade do impulso natural de compreender a vida, sonhando e esperando, sonhando e trabalhando ou simplesmente fingindo ser, esperando o tempo passar, sem significado real de ser, apenas sendo mediocremente, sem grandes e positivas expectativas.
É preciso aprender de onde virá a boa leitura do passado que já se foi e não voltará nunca mais. Como as boas coisas aconteceram? Como a felicidade foi construída. De que forma os mecanismos se ajustaram para nos dar a falsa porém plena sensação de plenitude, de segurança, de estabilidade, de felicidade absoluta e eterna.
É preciso ensinar as crianças que o tempo passa e as coisas acontecem. Os valores serão formados na medida dos passos dados pelas criaturas a cada ponto de vista, a cada ponto de partida, a cada gesto, cada sentimento, cada ação, pública ou privada.
Divagar já não é o suficiente, ir e voltar e simplesmente esperar o dia seguinte, numa viagem que nunca tem fim e ficar cada dia mais refém das fraquezas, não faz sentido. Não é possível acreditar em uma origem realmente digna, se acredita-se que este sistema de vida não é suficiente para trazer esperanças de uma sentido maior para a vida, de um significado mais profundo para ser e existir.
Os velhos dias não vão voltar. Os velhos dias de pais na mesa, mãe ordenando, amigos esperando, escola, esperanças, frustrações. O tempo passou. Cresce o homem a mulher e deixa de ser criança e entra em sociedade com as ervas daninhas das emoções crescidas e não arrancadas eficientemente de seu coração, nos ressentimentos que carrega consigo das ilusões que foram postas em sua mente, e segue se arrastando para a velhice o sonhador. Os velhos dias não vão voltar. Aqueles que se foram, ficarão no destino que procuraram. Não fizemos nada por nós mesmos em muitas gerações, enquanto ficamos esperando covardemente alguém fazer por nós.
E na tentativa de revitalizar velhos dias que talvez nem existiram, tentamos recriar com ilusões e romantismo os velhos dias, com orgulho e vaidade, maquiando as frustrações do tempo que se foi e deixando para o ontem apenas a busca pela nobreza que também não tivemos. A normalidade do passado parece doer mais no presente, simplesmente por que o tempo passou. Velhos dias não vão voltar..
Olhar para frente portanto exige esperança. Esperança não apenas em imaginar que uma previdência será o suficiente, que toda a riqueza do mundo ganha com trabalho ou em sorteio seria o melhor. Velhos dias que estarão presos na reconstrução da experiência para serem parâmetros dos novos dias que se precisa construir todos os dias. Na solidão de uma noite fria quando o filósofo estuda e pensa sobre a vida, na agitação da linha urbana em busca os pontos centrais da cidade, na carroça lotada de lixo, puxada pela força humana, na limusine carregada de comidas finas e bebidas de luxo. Homens e mulheres iguais em célula, sangue, nervos, músculos e finitude, aproveitam-se de todas as oportunidades possíveis para se agarrarem aos degraus da subida.
Onde termina a subida? No terraço do prédio mais alto da cidade mais rica? No topo da empresa mais bem sucedida e na história do homem mais bem cotado? E o ranking desta realidade é medido por quem? Pelas rãs que nos charcos laboram, cantando e chamando a atenção das águias e dos abutres, denunciando umas as outras?
Quanto fel e desilusão pode ter a vida materialista, quando a humanidade doente ainda acredita que é possível beber impunimente vinhos de milhares de dólares a garrafa, enquanto crianças não tem água potável, há alguns milhares de quilômetros de distância, na mesma dimensão. Palpável.
Velhos dias nunca mais. A pandemia que não trouxer sensibilidade ao ser que não quiser ver as denúncias de um mundo desigual, vai afundar corações cruéis com ressentimentos e egoísmos hipócritas, na lama do caos organizado, para que no caos recomece no sopé da escada e volte subir degrau por degrau, aprendendo que não se pisa nos outros para subir, mas se sobe de mãos dadas.
Velhos dias nunca mais.
Mas, quem sabe, os novos dias não sejam melhores.
Por Miguel Brambilla Jr.
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