Artigo – A pandemia e os três “is” Aquillino Dalla Santa Neto Professor de Filosofia
Depois de exatamente um ano de pandemia, talvez seja agora uma boa hora para questionarmos o que de concreto mudou numa nação governada por alguém que não está “nem aí” para as mais de 250 mil mortes causadas pelo coronavírus.
A única medida que ganhou destaque nos últimos meses foi o decreto autorizando o cidadão aumentar sua cota de quatro para seis armas, podendo em determinados casos chegar a oito, como se isso fosse prioridade na atual conjuntura socioeconômica. Mas, quantas pessoas no Brasil podem adquirir legalmente tal quantidade de armas, quem seriam elas e porque as teriam?
Todavia, não se pode negar que os aumentos diários dos combustíveis e do desemprego comprovam a inexistência de um plano econômico. Fato. Até agora, ouviu-se apenas falar em privatizações de estatais para enxugar os gastos públicos, como se todos os problemas que enfrentamos pela incompetência e negligência do governo federal nas áreas da economia, saúde, educação e meio ambiente, fossem resolvidos com isso.
Paralelamente, não cabe julgar fatos considerados irrelevantes diante da situação de colapso na saúde que ameaça a vida de todos, tais como a mansão de seis milhões que o filho do presidente da República adquiriu em Brasília, (num momento em que tal atitude lembra uma das causas da Revolução Francesa, onde o povo passava fome e a monarquia esbanjava joias, bens e banquetes), assim como a PEC da imunidade parlamentar que a Câmara Federal procura aprovar a toque de caixa da qual gerará ainda mais impunidade.
Realmente, tudo isso não importa agora, até porque todas essas questões estão passando despercebidas pela sociedade, devido à gravíssima fase de pandemia e banalização da morte que o país atravessa, cujo presidente da República, ao negar a realidade e insistir no confronto político-ideológico com os governos estaduais por não entender que não é o isolamento social que afeta a economia, mas sim o vírus, demonstrando preocupação apenas com sua reeleição, praticamente admite que não há mais nada a fazer a essa altura de seu mandato. Porém, a questão central é: não há mais nada a fazer porque não quer ou porque não sabe?
Não queremos que o país volte a ser como era, pois o país em que vivíamos foi o que nos fez chegar até aqui. No entanto, se começarmos a sentir saudades das coisas básicas que nos faziam bem e eram importantes para a maioria da população brasileira, então é porque algo está muito errado.
No fundo, vivemos outra pandemia além da Covid-19. Vivemos também a pandemia dos três “is”, ou seja, da insensibilidade, da insanidade e da indiferença.
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