Artigo / Leituras na Marca da Cal
por Moah Sousa , jornalista e produtor cultural
Por causa das medidas de combate à Covid-19, como o isolamento social e a proibição de aglomerações. A pessoa que curte futebol vive a angústia de ficar em casa e se manter distante das quatro linhas esportivas.
Acontece em todos os lares. Mesmo naqueles poucos que estão com vacina no braço e comida no prato.
Neste cenário, longe da pelota e da galera amiga, a presença de bons livros pode ser uma válvula de escape para o entretenimento, prazer e colheita de novos conhecimentos sobre o mundo do futebol.
Assim, indico a leitura de duas obras que pode cair no gosto dos amigos, os fiéis leitores, atletas e torcedores desta verdadeira paixão nacional.
Liga da Canela Preta
Livro do escritor e historiador José Antônio dos Santos que investiga a história do negro no futebol no meio popular porto-alegrense.
O autor parte duma incisiva indagação: “Afinal, existiu ou não a Liga da Canela Preta?”
A partir do questionamento, José Antônio promoveu uma extensa pesquisa com pontapé inicial no início do século XX em Porto Alegre.
Ele revela que a partir de 1910 passaram a existir três ligas de futebol na cidade. A Liga Porto Alegrense de Foot-Ball, a Associação Desportiva de Foot-Ball a Liga de Foot-Ball Sul-Americana.
De acordo com suas investigações, estas congregações esportivas deram origem “a fábula das três ligas”.
A primeira seria a “liga do sabão” formada pelas elites brancas e cheias das notas. A segunda foi nomeada de “liga do sabonete”, rechaçada pela primeira, mas que estava socialmente próxima da do “sabão”. Já a terceira, seria a “dos canelas pretas”, composta, na sua maioria, por negros, operários e imigrantes.
O autor sustenta que, oficialmente, estas ligas nunca existiram, mas permaneceu na imaginação dos atletas e torcedores por conta da forte politização do mundo esportivo naquele período da história. A disputa por territórios e campos para a prática do futebol teria alimentado a “fábula das três ligas”.
O livro projeta luzes para o leitor no sentido de clarear os acontecimentos com as lentes da economia, da vida social, dos costumes, da luta contra o racismo dentro e fora das quatro linhas. Uma obra que pode encantar os amantes da história e dos atletas que correm atrás da bola.
Jornalismo Esportivo
Publicação do conhecido jornalista paulista Paulo Vinicius Coelho, o PVC. Com passagens por distintos veículos impressos, emissoras de rádio e redes de TVs, o autor penteia a bola em um dinâmico painel sobre o exercício na cobertura do futebol no Brasil.
No roteiro, ele entrelaça a história do esporte, o mercado de trabalho, a transpiração e inspiração dos jornalistas. Também aborda os outros esportes e oferece um breve retrato dos principais veículos onde labutou e onde labuta até os dias que correm.
PVC conta que, em 1925, o futebol já era o esporte de preferência nacional.
A primeira Copa do Mundo, relata, se deu cinco anos depois. Antes, o Brasil já havia levantado o caneco de bicampeão sul-americano em 1919 e em 1922, recorda.
O profissionalismo, diz o autor, chegaria ao país oito anos mais tarde. Depois da Guerra, o futebol já era uma festa, uma paixão popular.
A obra mostra a participação das mulheres na cobertura do futebol, que se deu a partir dos anos 1970. Antes, predominava o preconceito e ainda hoje é sempre visto como algo curioso a mulher que entende e escreve sobre esportes, território onde o machismo impera.
Felizmente, sinais de mudança se projetam dentro dos gramados, onde é cada vez maior o número de mulheres jogando bola, trilhando o apito e sacudindo as bandeiras.
A leitura do livro do PVC é fundamental para entender um pouco mais sobre as relações da imprensa com os clubes, jogadores e as estruturas que comandam o futebol no Brasil e no mundo. Uma obra que consagra a prática do bom jornalismo – esforço, independência, imparcialidade e criatividade.
Serviço
Liga da Canela Preta. A história do negro no futebol
Autor: José Antônio dos Santos.
Editora: Diadorim
2018, 190 páginas.
Jornalismo Esportivo
Autor: Paulo Vinicius Coelho
Editora: Contexto
2017, 120 páginas.
Ilustração: Augusto Frank Bier
Divulgação Sabe Caxias: