“É importante ‘deselitizar’ os processos. Não só ensinar a ler, mas dizer que você pode ser autor”, afirma Alessandra Rech, Patrona da Feira do Livro de Caxias do Sul
Escritora, jornalista e professora, Alessandra conta sua trajetória e destaca a importância das sociabilidades em torno do literário
O convite para ser Patrona da Feira do Livro de Caxias do Sul chegou em um ano muito especial para Alessandra Rech. À época do anúncio, em maio de 2021, a jornalista, escritora e professora vinha desenvolvendo o movimento cartonero na região, uma experiência que tentava implantar desde 2016. Neste ano, ele ganhou um nome: Coletivo artístico-editorial Iara Cartonera. Com produção cultural de Fábio Schmidt, o projeto terá alguns de seus frutos conhecidos na 37ª edição da Feira do Livro.
No bairro Beltrão de Queiroz, o coletivo produziu 500 livros artesanais com recursos do Edital Formação e Diversidade das Culturas, Lei Aldir Blanc, realizado pela Fundação Marcopolo e SEDAC RS. O material estará à venda na Feira do Livro no dia 3, às 14h30, com show de Maracatu das crianças do CAE Ampliando Horizontes, serviço de convivência que atende crianças e adolescentes em turno inverso ao da escola. A renda proveniente da venda dos livros será revertida ao serviço.
“Reunindo papelão reciclado e as artes de 10 mulheres cujos filhos e netos são assistidos pelo projeto CAE Ampliando Horizontes, confeccionamos 500 exemplares artesanalmente, sendo 300 com títulos de domínio público (A Salamanca do Jarau; A Metamorfose; A Pianista). As mulheres do coletivo, remuneradas para participar das oficinas de confecção, darão mais um passo na sua aproximação com a literatura este ano com sua presença nas sessões de autógrafos, na Praça Dante Alighieri”, conta a Patrona.
Alessandra enfatiza a importância de aproximar a literatura do social: “ter esse convite da Feira do Livro reconhece a minha trajetória de escritora como um todo e, ao mesmo tempo, também valoriza esse grande momento que foi sair do gabinete, do meu cantinho, e produzir livro com as pessoas”.
“Artivista”, a mãe de Tábata e Clarice destaca, entre os seus interesses de pesquisa, as sociabilidades em torno do literário. Nesse sentido, fica o convite: a coletânea Mapa afetivo, outro resultado do Coletivo Iara Cartonera, será lançada no dia 4 de dezembro, às 16h, na Praça. A obra contém textos de autores locais desenvolvidos a partir de oficina do Órbita Literária e terá o valor das vendas também revertido em benefício ao CAE Ampliando Horizontes.
Divulgação Sabe Caxias:
“O livro estar na praça é um estímulo à leitura do povo”
Para além da “cartonera”, outras versões de Alessandra poderão ser vistas na Feira do Livro. A vencedora do Prêmio Vivita Cartier, em 2015, com o livro Mirabilia, realiza sessão de autógrafos desta e de outras de suas obras no dia 11, às 16h. Participa também de bate-papos e mesas literárias. No dia 28 de novembro, por exemplo, estará no sarau crítico-reflexivo “Brasil: uma leitura política”, ao lado da escritora Natalia Borges Polesso. A ação se inicia às 17h, com transmissão pelo YouTube e Facebook da Feira.
“A gente pode estar na Feira para ouvir alguém, para trocar ideias. É uma outra relação com o tempo e com a própria cidade também. Esses eventos tornam a cidade mais parecida com uma comunidade, com um lugar de encontro”, acredita a jornalista, que divide, feliz, a função de divulgar a Feira com Claudio Troian, Amigo do Livro nesta edição.
A Patrona comenta que diversas manifestações da leitura, além do texto escrito, podem ser encontradas no evento, como os saraus, a poesia, o rap e o slam. Ações como essas, na perspectiva de Alessandra, ressignificam a relação da comunidade com a arte. “Existem histórias muito concretas desse resgate de consumir a arte literária, de ver essa arte, se identificar com ela e também de se sentir pertencente a isso. De saber que pode produzir. É importante ‘deselitizar’ os processos. Não só ensinar a ler, mas dizer que você pode ser autor”, explica.
“Vivemos em uma sociedade muito refém da busca pela sobrevivência. E, às vezes, passamos longe dessa busca essencial, que é a busca pelo sentido. A subjetividade nos permitiu sobreviver na pandemia. E essa construção da subjetividade, na qual a arte nos ajuda tanto, pode ser um fio que nos mantém ligados a vida nos momentos mais difíceis”, pondera a escritora.
Divulgação Sabe Caxias:
Saiba mais sobre Alessandra Rech
Doutora em Letras/Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve estágio pós-doutoral na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Programa Avançado de Cultura Contemporânea. Aluna da Especialização Internacional em Epistemologias do Sul (CLACSO), Buenos Aires. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras e Cultura da UCS. Mestre em Letras e Cultura Regional pela Universidade de Caxias do Sul (2005). Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul (1996). Desde agosto de 2007, integra o corpo docente do Departamento de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul. Escritora, tem dois livros de crônicas publicados: Aguadeiro, 2007 e Mirabilia, 2014 – este agraciado com o Prêmio Vivita Cartier de Literatura em 2015. É autora, ainda, dos infantis O Sumiço do Canário – Quando os finais precisam ser inventados, 2012, e A insônia dos sabiás, 2018; além de Na Entrada-das-Águas – Amor e Liberdade no Sertão Rosiano, 2010, ensaio. Foi repórter e editora na Zero Hora Editora Jornalística (Jornal Pioneiro, de Caxias do Sul) de 1993 a 2007, e cronista semanal do Jornal Pioneiro 2000 – 2014, coluna Palavras, caderno Sete Dias, empresa para a qual produz a revista Casa&Cia (reportagens e edição) no jornal Pioneiro (Grupo RBS).
Sobre a Feira do Livro de Caxias do Sul
Com o tema “Ler Para (se) Mover”, a 37ª Feira do Livro em Caxias do Sul vai ocorrer de 26 de novembro a 12 de dezembro, na Praça Dante Alighieri, no Centro. De domingo a sexta, as bancas abrem das 12h às 20h e aos sábados, das 10h às 20h.
A abertura oficial será no dia 26 de novembro, às 18h30min. Serão 17 dias de atrações culturais e artísticas, sendo realizadas de forma presencial e de forma virtual, abertas à comunidade. Bancas de livreiros, estandes de patrocinadores, saraus, palestras e bate-papos na Galeria Gerd Bornheim poderão ser conferidos presencialmente. A Feira deve seguir protocolos de segurança, como uso de máscara obrigatório, distanciamento e disponibilização de totens de álcool gel.
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