Artigo | O papel da psicanálise na discussão de gênero
Pensar a relação psicanálise e gênero é um dos desafios dos tempos atuais. Mais do que nunca se faz necessário entrelaçar estes dois campos de conhecimento e vida. Freud, no final de sua obra, reconhece que a vida sexual da mulher era para a psicanálise um “continente negro”. É fato que ele, neste sentido, não avançou muito. E, poderíamos levantar várias hipóteses para tentar compreender o porquê disso. No entanto, sabedor de sua falta, conclamou seus seguidores a que explorassem o caminho que ele não tinha mais tempo de percorrer.
Sem dúvida alguma, faz-se urgente que se possa atualizar os conceitos psicanalíticos com relação ao tema. Pensar gênero e psicanálise é se permitir articular a subjetividade do indivíduo, na busca do entendimento de onde sua angústia se apresenta. Se por um lado se busca o acolhimento e a análise do ontológico, por outro, o gênero se atravessa, e cada vez mais. Como são e quem são os sujeitos homens e mulheres e suas representações diversas de sexualidade e cultura? E possível falar de gênero e sexo e compreender sua diferenciação e lugar no complexo de Édipo?
Gênero é um conceito proveniente da Sociologia e refere-se a um conjunto de prescrições, normas e regras para uma determinada conduta, no sentido de designar quais são os comportamentos apropriados para uma pessoa que defende uma posição particular dentro de um contexto dado. Valeska Zanello, coordenadora do programa de pós graduação em Psicologia da UNB, nos ajuda a pensar o quanto essas manobras de representação criam um gendramento de gênero, incitando à intolerância e ao apego perigoso a estereótipos.
Por isso, pensar em femininos e masculinos, suas vivências afetivas, sociais e culturais, impactam ontologicamente o sujeito e vice-versa. Nossa representação de gênero é nosso inventário humano e isso torna a discussão muito mais profunda e complexa. É preciso entrelaçar outros campos de conhecimento como a antropologia, sociologia, história e, inclusive a literatura. Afinal, somos o resultado de um discurso que já estava dado, antes mesmo de nascermos. Assim, é dever da psicanálise implicar-se nesse debate. Com isso em mente, a Vienna Instituição Psicanalítica, de Caxias do Sul, promove, no dia 22/10, o evento “Gêneros e Psicanálise: Diálogos Possíveis?”.
Adriana Antunes
Coordenadora de escrita na Vienna Instituição Psicanalítica
Dra. Em Letras, escritora e psicanalista
Divulgação Sabe Caxias:
Beto Saroldi, consagrado saxofonista brasileiro,
assina a nova música de Miguel Brambilla.
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