Narrativa sobre a presença do senador Hamilton Mourão em Caxias do Sul / por Miguel Brambilla
Nem concordar com tudo, nem discordar de tudo. Saí da RA da CIC com a presença do ex-vice presidente da República, e atual senador, Hamilton Mourão, Republicanos-RS, com uma sensação que não é nova: se poderia ser tudo melhor, ou tudo está ficando pior, por que não foi, não é e nem sei se será? Não quero mais perder amigos por causa de política. Não sei mesmo se perdi algum, se eram amigos. Particularmente, ao contrário de alguns mais radicais que não falam com a ou com b, não adotei esta política. Também, por que considero qualquer político eleito, de qualquer instância, de qualquer linha política, mais inteligente e mais rico do que eu que escolhi ser músico, jornalista e empresário, minimamente incompetente, enfim.
O senador Mourão, sempre foi, como vice-presidente da República, publicamente, um moderado institucionalista do governo Bolsonaro, mesmo quando abandonado por ele. Rechaçado da chapa da reeleição, continua como senador, justificando alguns atos da direita, como ingenuidade e com certo romantismo que eu particularmente não concordo num todo, talvez em parte em algum nível de ignorância política. Mas como o próprio expositor ressaltou na sua palestra, o que todos políticos sempre usaram, uma narrativa. No caso dele, denunciando a narrativa de esquerda contra o governo Bolsonaro, no caso da esquerda, a reclamação da narrativa de direita com relação a anistia geral da
nação sobre atos corruptos do passado; no caso da lava jato, uma confusão jurídica e uma ambição política, no caso do eleitor brasileiro sem a mínima parcela de responsabilidade sobre todo esse embróglio, além de um voto obrigatório e fugaz, as migalhas.
O senador Mourão falou com clareza sobre um cenário político mundial e nacional que é consenso. São fatos. A guerra na Ucrânia, os desequilíbrios econômicos recorrentes, a inflação dos alimentos. Defendeu com razão o agronegócio brasileiro, sua importância para o Brasil e para o mundo. Citou os riscos de quebra do pacto federativo se a proposta atual da reforma tributária passar, centralizando impostos no caixa do governo federal. Mourão falou também sobre recall político em caso de insatisfação. Com um certo conforto aí e uma dose de populismo, por que sabe que o Brasil está há mil anos desta realidade. Citou uma questão mais urgente, que são base talvez de uma reforma jurídica e do Supremo Tribunal Federal no Brasil, para ambos aliás, por que o STF virou o “VAR” do
Congresso Nacional, revisando todas as decisões importantes. Mandatos para juízes do Supremo, fim do ativismo judicial, fim do voto monocrático também estiveram na pauta de Mourão. Todas questões relevantes para o Brasil.
Sou pacifista por necessidade de sobrevivência, então discordo que o Brasil deva vender tanques para guerra para fomentar sua indústria bélica. Mourão é militar, é general, a guerra portanto é uma oportunidade sempre para um soldado, fica claro. Citou a visão napoleônica, de Napoleão Bonaparte de mais de duzentos anos atrás, citando a China como “um gigante adormecido”. Fato que se percebe hoje, aliás, quando se vê a China omitir-se tranquilamente sobre as ações belicosas e invasivas do presidente russo, Vladimir Putin, vendo a Europa e os Estados Unidos tentando resolver um problema insolúvel e esperando literalmente o circo pegar fogo no final, para recolher as cinzas dos vencidos sobre a sua própria urna funerária e dar as cartas na nova ordem mundial.
Criticou também o senador Mourão a atual política da Petrobras, a velha e literal teta do Brasil, onde está atualmente aliás, além do agronegócio, o grande poder da nação. Ao criticar a imprensa que na visão do senador, se omite com relação a política atual da estatal, o senador aposta na falta de denúncia pública e generaliza a questão sobre a mídia, como é pratica comum na atualidade de muitos governantes com tendências autoritárias, sobre as velhas práticas esquerdistas do clientelismo, do aparelhamento do estado e da visão estatizante do atual governo, que venceu as eleições diga-se, com a sua narrativa, sobre a narrativa da direita. Só falta incluir a narrativa do Galvão Bueno nesta guerra de … narrativas, onde a verdade absoluta não existe e nunca existirá, em nenhum dos lados, que
também não são apenas dois.
Nem na maioria da direita no Congresso Nacional, nem nos “imaculados” supremos da nação, que tem o poder sobre tudo e sobre todos, numa situação perigosíssima para uma democracia e nem a imprensa que se divide em retóricas múltiplas de diletantistas intelectuais de toda ordem, que como já aconteceu em várias épocas se arvoram reais construtores da história, sob a batuta profana da vaidade intelectual.
Seria tão bom para o Brasil se as visões e propostas do senador Hamilton Mourão para o Brasil, estivessem na pauta de debates, avanços e lapidações num caldeirão político que fosse realmente saudável e menos inflamado que o atual quadro nacional. Infelizmente porém, grita de lá, grita de cá. Microfones, holofotes, tribunas, não salvarão o país que fala apenas para públicos convictos de seus ditos heróis nacionais e messias. Entre acusações, abominações, narrativas e verdades, navega a grande nação brasileira sob o risco de qualquer naufrágio, sob a ameaça de qualquer tempestade, sob a égide do humor momentâneo de seus líderes nacionais e quando menos, sob o ostracismo da seleção brasileira que nem mais orgulho oferece e já não une mais ninguém num emocionante grito de gol,
no gostoso grito de campeão.
Nem tivemos paciência para falar sobre o 8 de janeiro. O “golpe tabajara” disse o senador Mourão e eu concordo, com pouca articulação o Brasil estaria remilitarizado. Porém, na guerra das narrativas e na CPI do golpe que tenta ganhar protagonismo para dar palco político para muitos, difícil é acreditar que velhas senhoras entrariam para destruir os poderes com vandalismo de sombrinhas e bengalas, e por outro lado, que infiltrados fariam isso em nome do tiro no pé da própria direita sobre todas as duas pernas e fraturas expostas eu diria, precipitando os fatos por oportunismo, o que também, não seria nenhuma impossibilidade em graus relativos de relevância e poder.
Nos pequenos círculos políticos, para que amigos não se inimizem, os assuntos sobre os problemas do Brasil vão virando tabus. Falha das autoridades da esquerda diz Mourão que não defenderam o patrimônio nacional. Risco de uma carnificina diz a esquerda, que sairia como culpada da violência proposta se mais rígida fosse no ato, dando o espaço vazio de poder que imediatamente seria ocupado pelas Forças Armadas, para “por ordem na casa”. Narrativas.
Estou como um antigo personagem do Jô Soares, o Múcio. Todos os argumentos são tão bons, todas as narrativas são tão justas que me convencem. Como já disse, todos os políticos eleitos são mais inteligentes e mais ricos que eu. O que eu gostaria apenas, para mim e para meus filhos, é que se encontrasse a melhor ação política nesta batalha verbal que virou o Brasil. Ao que parece porém, no espalhar de narrativas, todos os públicos já se apresentam convencidos, então é apenas teatro para pinguins. Ninguém sabe exatamente quando, como e porque as coisas vão se encaminhar verdadeiramente para um avanço democrático, políticas de estado permanentes e segurança jurídica
nacional.
Corrigindo, ou ninguém sabe, ou muito poucos dos que estão no poder verdadeiramente querem praticar o óbvio daquilo que sabem, para se chegar a uma utopia, que faria todos perderem causas e narrativas.
E nos outros elos da sociedade, aplausos de todo lado, focas de todas as cores, sob o mesmo frio glacial, a mesma neve, as mesmas tempestades e secas, as mesmas necessidades públicas que afetam direta ou indiretamente, ricos e pobres brasileiros, registrados sob uma mesma nacionalidade, ao menos civilmente. Por fim, para que eu não fique fora da moda. Essa é a minha ousada, pretensiosa e pessoal opinião
narrativa.
Caxias do Sul, 07 de agosto de 2023
Miguel Brambilla, jornalista, profissional de marketing, músico, escritor, empresário.
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