A importância de alinhar estratégias de ESG com políticas de gênero e inclusão nas empresas

Nos últimos anos, a adoção de estratégias de ESG (Environment, Social, and Governance) pelas empresas tem se intensificado, refletindo uma crescente preocupação com a sustentabilidade e responsabilidade social corporativa. No entanto, a maior parte do foco tem sido direcionada para a componente ambiental, frequentemente negligenciando a importância das dimensões sociais e de governança.

A necessidade de adoção de estratégias de ESG que se preocupam com a promoção de equidade de gênero, diversidade e inclusão no ambiente de trabalho é urgente. Segundo dados divulgados em março deste ano pelo 1º Relatório de Transparência Salarial pelos ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego, as mulheres recebem 19,4% menos do que os homens. Além disso, mulheres são mais propensas a experimentar assédio no ambiente de trabalho. No Brasil, dados do Ministério Público do Trabalho apontam que as denúncias de assédio moral e sexual, em 2023, foi maior do que a soma dos dois anos anteriores, sendo que as mulheres foram as principais vítimas.

O que se percebe é que embora haja uma crescente de iniciativas do poder público em incentivar a equiparação entre homens e mulheres no mercado de trabalho, elas ainda são os maiores alvos de condutas assediadoras e, como se não bastasse, ainda tendem a receber menos do que homens ao exercer a mesma função. É fundamental que a iniciativa privada entenda essa problemática a fim de não mais replicá-la, rompendo com essa realidade, de modo a garantir melhores condições de trabalho para as mulheres, unindo-se à sociedade e ao poder público na luta pela equidade entre os gêneros.

De nada adianta a elaboração de leis que garantam em tese que homens e mulheres são iguais perante a lei, que devem ser pagos de maneira justa e igualitária, independentemente de gênero, raça, orientação sexual e afins, se, na prática, a experiência e as oportunidades apresentadas nos ambientes de trabalho evidenciam e aprofundam ainda mais as diferenças entre homens e mulheres, principalmente se as mulheres ainda forem partes de outros grupos étnicos, sociais e raciais, comumente minorizados pela sociedade.

Para garantir que o “S” (social) da sigla “ESG” seja respeitado e haja investimento nesse âmbito, as empresas podem adotar diversas ações práticas, como por exemplo, as mencionadas a seguir.

Primeiramente, a realização de treinamentos e palestras regulares conduzidos por profissionais especialistas pode ajudar a desconstruir estereótipos de gênero e, assim, criar uma cultura mais inclusiva entre todos os funcionários e líderes. Sob este ponto, frisa-se que a Lei nº 11.457/22 instituiu às empresas com mais de 20 funcionários a obrigatoriedade de promover treinamentos anuais contra assédio sexual e outras formas de violência no ambiente de trabalho para todos os seus funcionários, de todos os níveis hierárquicos.

Além disso, oferecer serviços de creche no local de trabalho e licenças parentais remuneradas flexíveis, incentivando que homens e mulheres compartilhem as responsabilidades de cuidado com os filhos. Isto porque, é impossível garantir que as mulheres conquistem a igualdade no trabalho se não houver igualdade dentro de casa também, por isso é imprescindível que as empresas ajudem a equilibrar as obrigações relativas ao trabalho e à família, além de romper com a tradicional e ultrapassada “divisão sexual do trabalho” em que se atribui quase exclusivamente às mulheres o serviço doméstico não remunerado.

Estabelecer metas claras para a promoção da equidade de gênero e publicar relatórios de transparência sobre o progresso dessas metas também são medidas importantes. E, por fim, investir em programas de desenvolvimento de lideranças femininas e de grupos subrepresentados incentiva à promoção de uma cultura corporativa diversa e igualitária, contribuindo para a sustentabilidade e responsabilidade social da empresa.

A adoção de políticas voltadas para a garantia da inclusão e da equidade de gêneros no ambiente corporativo é imprescindível não apenas pela questão de responsabilidade social, mas também por representar uma decisão inteligente e estratégica no que diz respeito ao crescimento da empresa e à inovação. 

Pelo menos é isso que aponta o relatório “Diversity matters even more” produzido pela McKinsey, que analisa a relação entre Diversidade, Equidade e Inclusão com o desempenho nos negócios. A edição apresentada em dezembro de 2023, trouxe a constatação de que equipes executivas diversas (tanto no quesito de gênero, quanto no quesito étnico-racial) têm maior probabilidade de apresentar lucros acima da média, tendo, em média, 9% mais probabilidade de superar seus concorrentes em termos de lucratividade. Enquanto isso, as empresas menos diversas apresentam, em média, 66% menos chances de superar financeiramente seus concorrentes.

Isso significa que empresas que almejam se colocar como líderes em suas categorias no mercado, competindo com seus concorrentes e, além disso, continuar lucrando, devem implementar políticas que permitam o pleno desenvolvimento das mulheres dentro das empresas, possibilitando que elas cheguem aos cargos executivos. Um ambiente de trabalho que seja verdadeiramente inclusivo costuma gerar satisfação entre os funcionários, que se sentem valorizados e respeitados. Tais sentimentos e valores refletem na produtividade e na retenção de talentos, gerando os resultados apontados pelos estudos aqui trazidos.

Ademais, a inclusão e a equidade de gêneros no ambiente de trabalho podem ser responsáveis por um importante impacto de ordem global: estudo realizado recentemente pelo Banco Mundial aponta que aumentar a participação feminina no mercado de trabalho pode turbinar o PIB global em até 20 pontos percentuais, impulsionando a riqueza do mundo.

A adoção de estratégias ESG que integram a promoção de equidade de gênero, diversidade e inclusão é imperativa para as empresas que desejam não apenas cumprir suas responsabilidades sociais, mas também alcançar melhores resultados financeiros e inovar continuamente.

Incorporar esses princípios nas políticas corporativas não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia inteligente para o crescimento sustentável e competitivo das empresas, além de influenciar significativamente no crescimento da economia no cenário global.

Anelise Borguezi, Pós Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo e sócia do Borguezi e Vendramini, Advocacia para Mulheres e Minorias

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