Bailei na Curva, clássico do teatro gaúcho, completa 41 anos em 2024
Comédia dramática que retrata o tempo da ditadura militar pelo olhar de um grupo de amigos será apresentada no dia 07 de setembro, no UCS Teatro, em Caxias do Sul, seguida de bate-papo com a plateia, protagonizado pelo diretor do espetáculo Julio Conte e pela psicanalista Barbara Conte
Dirigida pelo caxiense Julio Conte, a peça Bailei na Curva, um dos maiores sucessos e a mais longeva do teatro gaúcho completa 41 anos em cartaz, em 2024. Para enaltecer a data, a atração retorna aos palcos de Caxias do Sul no dia 7 de setembro, sábado, às 19h, no UCS Teatro. O espetáculo é uma realização do Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre/Serra (CEPdePA/Serra), presidido por Lores Pedro Meller, por meio da comissão elencada pela diretora Denise Casara e pelos psicanalistas Flávia Bernardi, Ivandra Vacari da Silva Loro, Julio César Kunz, Nicole Padilha Venturin, Paula Chiapinotto Triches e Sandro Stank da Silva, que pretendem, com a ação, estreitar os laços entre a psicanálise e a cultura, por meio da arte.
“Voltar para Caxias sempre me faz bem. Morei até os oito anos em Forqueta, depois nos mudamos para Porto Alegre. Como Forqueta ainda não era um bairro, mas uma vila longe da cidade, Caxias sempre representou uma fonte de curiosidade e receio, uma aventura que incluía cinemas com filmes grandiosos, lojas cheias de novidades e restaurantes de comida farta. Eu frequentava a casa dos tios e primos, era um espetáculo. Caxias sempre será uma vertigem das descobertas e uma aventura emocional”, elucida o diretor, Julio Conte.
Bailei na Curva foi premiado no Açorianos de 1983 e levou multidões a teatros do Rio Grande do Sul e do Brasil nos anos seguintes. A temática do espetáculo aborda a ditadura militar brasileira e o roteiro, construído a muitas mãos, acompanha o crescimento de sete crianças durante os anos de chumbo, mesclando as fases históricas do período com as fases vividas por elas em suas vidas pessoais.
A peça foi encenada pela primeira vez em 1983, no antigo Teatro do Ipê, em Porto Alegre, e foi responsável por tornar conhecidos os versos da canção “Horizontes”, composta por Flávio Bicca Rocha justamente para o espetáculo, tornando-se uma espécie de hino alternativo da capital do Rio Grande do Sul.
“Embora em algum lugar profundamente labiríntico dentro de si, se sonhe com alguma coisa que represente uma vitória sobre a morte, dificilmente um criador tem noção da extensão do que cria. Uma obra de arte é como um filho, tem vida própria. Do mesmo modo que se envolve um filho com um manto de sonhos onde as possibilidades e os desejos se multiplicam, de fato, não se tem a mínima ideia de onde a vida pode nos levar. E sonhar é a parte que nos cabe e nos define. A digital humana está no sonho que nos move. A multiplicidade de fatores possíveis e impossíveis gera eventos complexos que expandem o determinismo para mais e muito além. Dentro do pensamento real e determinista é possível que Bailei na Curva não existisse. Mas aconteceu. Felizmente, o mundo é bem maior e nos surpreende a cada momento. Captar cada eternidade do instante é o desafio ao enfrentar os paradoxos da vida em si”, pondera Conte.
Dentro da proposta, o diretor Júlio Conte, que também é psicanalista, subirá ao palco para um encontro com a colega de profissão Barbara de Souza Conte. Os dois vão protagonizar um bate-papo sobre os temas centrais abordados na peça e a importância da arte como forma de expressão.
Conte considera que cada apresentação de teatro é como uma sessão de análise, diz algo novo e produz um salto no desconhecido. “Toda vez que a peça acontece no palco, novas sensações e lembranças inéditas sobrevêm, emoções tomam o campo e elaborações se realizam. A peça evolui dentro e fora como estética teatral e psíquica, como obra de arte, espetáculo, força social, criação de novas perspectivas, releitura da história que, juntos, deságuam em fontes de crescimento emocional. A psicanálise fala em algum lugar labiríntico no qual enfrentam-se os ‘minotauros’ e, deste embate, ou deciframos ou sucumbimos”, finaliza Conte.
A história é representativa do que, à época, sentiam os criadores da peça — Claudia Accurso, Flávio Bicca Rocha, Hermes Mancilha, Julio Conte, Lúcia Serpa, Marcia do Canto e Regina Goulart —, jovens que também cresceram em meio ao período político conturbado. Ao longo dos anos, o elenco foi mudando e, com ele, o roteiro mescla novas ideias, sem extrair a essência.
A venda dos ingressos será por meio do site Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/97194/d/272374/s/1860185), no valor de R$ 70 a R$ 160.
O espetáculo Bailei na Curva conta com patrocínio da Rádio Caxias e Studio Classic e apoio do Restaurante Di Paolo e da Docivete Confeitaria.
SINOPSE
Bailei na Curva mostra a trajetória de sete crianças, vizinhas na mesma rua, em abril de 1964. Como pano de fundo, impõe-se uma forte realidade. Um golpe militar num país democrático da América Latina. A peça desenha, ao mesmo tempo, um quadro divertido e implacável da realidade. Divertido sob o ponto de vista da pureza e ingenuidade das personagens que, durante sua trajetória, enfrentam as transformações do final da infância, adolescência e juventude. E implacável graças às consequências de um Golpe Militar que se reflete na vida adulta desses personagens. Durante o desenvolvimento da história, vai se desenhando um painel dos usos, costumes e pensamentos da sociedade brasileira na segunda metade do século XX. As brincadeiras de colégio, as aulas de educação sexual, as matinês no cinema, as reuniões dançantes nas garagens, os namoros no carro – uma juventude que opta pela guerrilha e clandestinidade em contraste à outra juventude que abraça as drogas e cai na estrada e, finalmente, adultos que optam pelas conquistas individuais em contraponto àqueles que lutam para resgatar as memórias dos “anos de chumbo” – uma geração que encontra sua maturidade nos movimentos de Anistia e Abertura Política e que encerra todas as suas esperanças no mandato de Tancredo Neves para Presidente da República.
FICHA TÉCNICA
Direção: Júlio Conte
Roteiro e texto final: Júlio Conte, Cláudia Accurso, Flávio Bicca Rocha, Hermes Mancilha, Lúcia Serpa, Márcia do Canto e Regina Goulart
Música-tema: Flávio Bicca Rocha
Elenco: Ana Paula Schneider, Catharina Conte, Eduardo Mendonça, Guilherme Barcelos, Laura Leão, Leonardo Barison, Manoela Wunderlich e Saulo Aquino
Operação de som: Ismael Goulart
Operação de luz: Gabriel Lagoas
Operação de projeções: Cristiano Adeli
Coordenação de produção e assessoria de imprensa: Gustavo Saul
Mídias sociais: Catharina Conte
Assistente de produção: Bruna Eltz
Realização: Cômica Cultural Escola e Produtora de Teatro
Classificação: 12 anos
Duração: 120 minutos