O Paradoxo do Poder: assédio sexual no ambiente de trabalho
Claudette Seltenreicht – Psicóloga Clínica e Organizacional, especialista em Desenvolvimento Humano
Estudos comprovam que, quanto mais alto o posto ocupado por uma mulher, maior o risco de se tornar alvo de assédio sexual. É o chamado “paradoxo do poder”, que reflete uma estrutura machista profundamente enraizada na sociedade, responsável por afetar a saúde mental das vítimas, prejudicando tanto seu bem-estar quanto sua trajetória profissional.
Um caso recente foi o da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que relatou ter sido assediada pelo ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. O episódio chocou o Brasil e evidenciou que o assédio não está restrito a ambientes de baixa visibilidade, mas também ocorre entre figuras públicas e políticas de alto escalão.
Na maioria, as pacientes que vêm a meu consultório têm receio de denunciar, temendo retaliações ou até mesmo a perda do emprego. A realidade do mercado, muitas vezes, não proporciona segurança às vítimas. O medo de represálias, somado à vergonha e ao trauma, acaba silenciando as denúncias que deveriam ser feitas.
Para quem sofre assédio, a recomendação mais importante é: denuncie. Procurar uma delegacia especializada no atendimento à mulher ou outra unidade policial, mesmo que em uma cidade diferente, pode garantir a proteção da vítima e até mesmo a sua permanência no emprego, com o afastamento do agressor. Assim, rompe-se o ciclo de violência.
Além de buscar ajuda, torna-se essencial que as organizações atuem preventivamente. A capacitação de gestores e a implementação de políticas de combate ao assédio são ferramentas poderosas para mudar o ambiente de trabalho. A prevenção também passa pela educação e pela conscientização dos colaboradores sobre o que é assédio e sua natureza nociva e sobre como identificar as situações de abuso. Mais do que ações punitivas, necessita-se criar uma cultura de igualdade e respeito dentro das empresas.
A sociedade só poderá avançar quando o assunto for tratado com a seriedade que merece. O caminho é longo, mas, com mais denúncias e prevenção, podemos criar locais onde todos, independentemente de gênero, possam exercer suas funções com dignidade e segurança.
Divulgação Sabe Caxias: